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"You cannot find peace by avoiding life"

  • thaissbittencourt
  • 27 de mar. de 2016
  • 3 min de leitura

Filmes pessoais são os que mais me atraem. Acho que a profundidade dos personagens desse gênero faz eles se aproximarem de nós, pessoas reais. Quando falo isso para os outros, recebo instantaneamente reações de espanto. Dizem: "Esse filme é deprimente! Como você pode gostar disso?". Mas é exatamente o oposto. Acho que o cineasta quer justamente nos alertar através do problema de seus personagens. O artista quer mostrar "Olha, isso está errado, vamos mudar!". Por isso, esses filmes têm efeito catártico em mim.

Essa introdução foi feita para explicar o filme que comento hoje. "As Horas", baseado no livro homônimo de Michael Cunningham, é um dos filmes mais poéticos que já assisti. Sem dúvida, está entre meus preferidos. Para que não conhece, o longa retrata, em três períodos diferentes, a vida de três mulheres ligadas ao livro "Mrs. Dalloway", de Virginia Woolf, incluindo a própria. Em 1923 vive Virginia Woolf (Nicole Kidman), autora do livro, que enfrenta uma crise de depressão e ideias de suicídio. Em 1950 vive Laura Brown (Julianne Moore), uma dona de casa grávida que mora em Los Angeles, planeja uma festa de aniversário para o marido e não consegue parar de ler o livro. Nos dias atuais vive Clarissa Vaughn (Meryl Streep), uma editora de livros que vive em Nova York e dá uma festa para Richard (Ed Harris), escritor que fora seu amante no passado e hoje está com Aids e morrendo.

A partir de então, as histórias são interligadas, retratando semelhanças e diferenças entre elas. O livro de Woolf é um importante pano de fundo, quase um personagem do filme. Em 1923, a autora escreve o livro, em 1950 Laura Brown lê o livro e anos 2000, Clarisse Vaughn é a própria Mrs. Dalloway.

Não quero estragar o prazer de quem tem a intenção de ver o filme, por isso não vou me aprofundar no que ocorre durante ele. Mas posso dizer que não é um filme só para mulheres. Ele retrata a depressão, a insatisfação de estar preso em uma vida que não se quer. De esconder o que realmente sente. Esses sentimentos são universais. Não a depressão em si, mas a insatisfação, principalmente em um mundo em que, às vezes, nos encontramos presos.

A doença vista frequentemente como fator positivo no processo criativo, é vista de outra maneira aqui. Virginia que se sente infeliz e depressiva, não consegue realizar seu trabalho muito bem, apesar de ter começado o livro. Algumas pesquisas mostram que sua fase mais criativa foi justamente quando estava com a saúde melhor.

Tanto as atuações, quanto a direção e o roteiro do filme são impecáveis. Acredito que Nicole Kidman (maravilhosa) ganhou o Oscar de melhor atriz pelo seu desempenho na cena da estação de trem. Na ocasião, toda angústia da personagem é exposta e sua brilhante atuação é comovente. Quando ela diz "até o pior paciente tem direto de opinar sobre seu próprio remédio", está fantástica.

Agora, para mim, o maior destaque no filme é Julianne Moore. Ela é uma das melhores atrizes do cinema atualmente. Me espanto como ela perdeu a estatueta na época para Catherine Zeta-Jones em "Chicago". Vemos quando um ator é realmente completo quando ele consegue traduzir toda sua emoção através do olhar e em poucas palavras. E é exatamente isso que ela faz.

Meryl Streep dispensa comentários, apesar de não ser o maior destaque do filme e Ed Harris está em seu melhor papel.

Por fim, um filme belíssimo que nos faz pensar se estamos realmente apreciando nossa vida e fazendo boas escolhas. Como diz Virginia para seu marido na já citada cena da estação de trem, "You cannot find peace by avoiding life", traduzindo, "Não se pode ter paz evitando a vida".


 
 
 

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